terça-feira, 28 de outubro de 2008


OBRA DE ARTE

Clarisse cresce no amadurecimento da fruta

Minha filha-semente

Entre erros e acertos

Ela é a caligrafia bonita seguindo o curso da linha

Minha leitura cuidadosa da vida

Minha preocupação em não ultrajar a Língua Portuguesa

Clarisse é a minha ponte de futuro

É a certeza do meu ventre robusto

É o meu sorriso na fotografia

É projeto da casa em construção

O que dizer da criatura que ainda não nasceu?

O que pintar dessa tela em branco?

A minha filha nasce do sonho de mimcontigo

Clarisse é sempre um rosto bem-vindo na moldura

Consigo vê-la sorrindo, seus olhos famintos como os meus

Meu ventre vem se preparando para o encontro

Arrumo o quartinho para aninhá-la a vontade

Fernando pode me surpreender

Minha semente crescer se escondendo

Clarisse será meu sonho interrompido de laços e cor- de- rosa

Fernando fará meu sonho azul

Será meu homem, meu menino

Nasce em mim vontades

E um desejo de lamber tijolos

Cresce em mim uma realização

Feminina-masculina

Nasce de mim a bênção



Rosemeri Sirnes


sexta-feira, 24 de outubro de 2008

Tarde-noite


À tardinha eu tive uma idéia, subitamente uma lâmpada sobre a cabeça; minha idéia de caneta azul e sublinhado vermelho, idéia de negrito e caixa alta, idéia das boas; idéia que me pegou de calça baixa, idéia de banheiro embaixo do chuveiro, idéia de acender fogueira. Logo no início da noite, num sol que se mostrava lá fora pelo horário de verão, eu tive a intenção, o que já é um começo; de lançar palavras a esmo e derrubar os pinos do boliche. Tenho que dizer, tive fome também, das grandes, então comi a idéia que é essa aqui. Provei da idéia e gostei.


Rosemeri Sirnes




Fotografia: Vladimir Repkin