Arrasto seu corpo cuidadosamente para que nenhum imprevisto pule de lá, vasculho cadernos, papéis soltos, frases que não terminei, quis ir até o fundo da gaveta; tudo isso, sem permitir brechas de luz, tateando como leitura em braile; de repente meus dedos vieram parar aqui.
quarta-feira, 28 de janeiro de 2009
terça-feira, 27 de janeiro de 2009
Comecei a ler o Diário de Anaïs Nin, ora o encantamento me assume ora a identificação me toma o corpo, e é uma pena que não possa carregá-lo comigo, largá-lo numa estação qualquer onde outros possam lê-lo e sentir o mesmo. Gostaria de me estender em suas trezentas e tantas páginas, mas o tempo de funcionamento da biblioteca me faz abandonar a idéia. Basta uma frase impactante, um qualquer sinal de coisa irmã e estou querendo voltar no tempo e querendo me inundar no mar das palavras virgens.
“...porque a minha felicidade com os seres humanos é tão frágil...”
Anais Nin
Tem um quê de leitura anterior, posterior a essa, como Clarice, tem um quê maior de ineditismo que me abraça.
Quero ser uma escritora que lembre aos outros que estes momentos existem. Quero provar que existe um espaço infinito, um sentido infinito para as coisas, uma dimensão infinita.
Mas não estou naquilo que se pode chamar de estado de graça. Tenho dias de iluminação e febre. Há dias em que a música para na minha cabeça. Então remendo peúgas, limpo árvores, apanho frutos, dou brilho ao mobiliário, Mas enquanto faço isto sinto que não vivo.”
Sei que devia dizer do livro ao término, das impressões, surpresas e arrebatamentos, sei que o resultado surge após o cálculo detalhado, talvez a minha ansiedade tenha intuído; não, não mesmo, sem talvez, é certo o que digo, diante de encantadoras páginas, 18 de 314. O que mais está por vir é um jardim de orquídeas, girassóis e muitas espécies raras.
“Vive-se assim protegido num mundo delicado, e crê-se que se vive. Então lê-se um livro(Lady Chartterly, por exemplo) ou faz-se uma viagem, ou fala-se com Richard, e descobre-se que não se vive, apenas se hiberna.”
Anais Nin
Retirei da estante 11 livros tendo completa convicção de que nenhum ser humano seria capaz de lê-los de uma só vez nas 3 horas em que planejava ficar; estou aqui desde que cheguei, presa a um mesmo título e querendo carregá-lo comigo. Vejo ele me justificando, me desvendando, me entendendo e tudo isso é uma loucura e ao mesmo tempo somos todos iguais em essência, seres livres receosos da própria vida que queremos viver, seguindo em fila indiana só porque é mais seguro.
“O verdadeiro infiel é aquele que só faz amor com uma fração de ti. E nega o resto."
Anais Nin
sexta-feira, 23 de janeiro de 2009
Aproveito o "post" de hoje para oferecer honrarias a esse talentoso Henrique Monteiro. Descobri suas caricaturas numa dessas buscas que me levam a lugares interessantes e outros nem tanto, e é claro que ele está incluído no primeiro grupo. Quando me deparei com a caricatura da cantora Esperanza Spalding(essa que demonstro) feita por ele, fiquei extasiada. Em seu espaço http://henricartoon.blogs.sapo.pt tem um bocado de pedras preciosas, coisa que não se pode deixar de ver. Eu não podia ficar alheia e nem vocês podem. Não dizem por aí que o que é bonito é pra se mostrar, então aqui está.
terça-feira, 20 de janeiro de 2009
O bloco passa pela janela me convidando para entrar na festa e o batuque avisa que logo, logo vem o carnaval. Tempo atrás eu diria que a festa profana não me atrai; de fato, o trânsito na ida para o litoral me enerva, dentro de um carro sem ar condicionado em dia de calor escaldante ainda mais; gente bêbada afim de briga também, mas de resto, da folia, das marchinhas, daquela alegria, de paetês, fantasias e o brilho dos desfiles das escolas pelo sambódromo, ah...eu tenho que confessar, meus antecedentes, meu samba no pé(com toda modéstia) e esse sangue que me corre nas veias não me deixam mentir, eu amo! Tempo atrás poderiam me interrogar sobre meu apreço e eu afirmaria a abominação, mas depois que dispensei a tv 21 polegadas e fui ver o desfile na avenida, todo aquele glamour, todo o exagero, toda aquela alegria, no único momento onde ricos e pobres são um; depois disso, eu me rendi.
E os blocos já começam o esquenta, as quadras das escolas, sem contar os ensaios técnicos que antecedem os desfiles oficiais que lotam todas as noites. Deve ser por isso que dizem que o ano só começa depois do carnaval, e se for assim, aproveito a extensão, porque o meu começou faz tempo.
domingo, 18 de janeiro de 2009
Paixão...falou-se muito hoje da palavra, do sentido empregado, não de rompantes, mas do correr devagar nas veias, do caminhar em passos leves sem a pressa dos amantes no afogar-se em si mesmos, da fatia que perdura em nós, nessa garra semente; da paciência pelo germinar, madurar e colher.
Não entendia o tempo que meu avô levava, não entendia essa adoração pela horta, a paciência que invejo desde a ponta. Ele mantém cascas de legumes e frutas como adubo, ele distribui, observa as pragas nas culturas, ele poda e espera crescer, ele celebra cada pequeno fruto, cada flor que se abre acenando resistência. Meu avô tem paixão pela terra e fala das plantações todas, de mandioca à bucha, como a mãe experiente fala sobre sua experiência com recém nascidos.
Paixão... preciso reafirmar, preciso ouvir para poder convencer-me dos dias que passo sem recionalizar o sentimento. A paixão pousa em mim na satisfação do trato com o outro, basta um sorriso em qualquer caso e estou ali entregue. O sorriso estreita diferenças, o sorriso é o convite para entrar em casa, é o cumprimento com os dentes, e é só deixar por conta que as feições todas se encarregam de reverenciá-lo.
Paixão é fósforo aceso que não quer apenas que o palito queime, quer de fato, acender-se de outras formas.
Há paixões de muitas formas e por muitas coisas, de medidas imensuráveis e de categorias várias separadas pelo corredor de variedades que a gente se dispõe. Seja qual for a sua paixão, tenha certeza de que por mais duras penas, o resultado do que se emprega em esforço é sempre maior e dignificante.
Rosemeri Sirnes
terça-feira, 13 de janeiro de 2009
A solidão de alguém que está voltando
Ele voltou ou está voltando. Ao que parece, a cidade afundará um pouco mais com o peso de seu corpo no momento em que descer do ônibus e olhar ao redor e constatar que ninguém o está esperando na rodoviária de tijolos à vista e cinzentos bancos de ardósia.
Ele voltou. Ele não avisou que viria. Quem o estaria esperando?
A cidade afunda um pouco mais com o peso de seu corpo no momento em que desce do ônibus e olha ao redor. A rodoviária está vazia; são oito e quarenta da noite, ele é o único a descer do ônibus e não há ninguém esperando para adentrar o veículo e tomar o seu lugar. Ele ajeita a mochila nas costas, a única bagagem que carrega, e vai ao banheiro. As luzes estão queimadas e o cheiro de desinfetante faz com que ele espirre. Urina com os olhos fechados.
As ruas estão desertas e encharcadas. Ele não avisou que viria. Esteve fora por dois anos. No ônibus, sonhou que viajava no útero de um animal sem asas, uma espécie de lagarto mecânico extremamente ágil, solto na noite mais fria da sua vida. Viajou por vinte e seis horas. Ainda não se acostumou a dizer “ex-esposa”. Dois animais sem asas, subitamente livres um do outro. Ou não. E sim: toda aquela tristeza de fimdepapo.
Ela disse que. Ela disse que queria. Ela disse que queria conversar. Não: ela disse que precisavam conversar. E então emudeceu. Sentada no outro sofá com as mãos unidas sobre o colo, olhando para o tapete sobre o qual, semanas antes, morrera o cachorro, sufocado, diante deles, sem que eles pudessem fazer nada. O veterinário errou. A gente errou. Talvez ela estivesse pensando sobre isso naquele momento. Um erro sobre o outro, um erro instalado dentro do outro. No que não conseguiram evitar, em tudo o que morreu, em tudo o que continuava morrendo. Uma morte sobre a outra, uma morte instalada dentro da outra. E então ela disse:
Eu não agüento mais.
Quarenta e oito horas depois, as malas prontas, a passagem comprada, ela sentou-se na beira da cama, ao lado dele, chorava, ambos choravam, e disse:
Não. Você não precisa ir.
Ele olhou para as malas empilhadas num canto, depois virou a cabeça e fitou o tapete da sala, o cachorro sufocando, e estranhamente pensou que as coisas boas, todas elas, estavam devidamente acondicionadas no cômodo mais arejado de sua cabeça. Vão continuar ali, aconteça o que acontecer. Olhou para ela como se quisesse confirmar isso, mas ela já não tinha olhos, mãos, voz.
Agora, caminhando em direção à casa da avó, sente a cabeça inteiramente vazia. Sem olhos, mãos, voz. Uma sensação terrível.
Ela me ligou, disse-lhe a avó assim que abriu a porta. Contou que você estava vindo. Onde está o resto da sua bagagem?
A senhora não vai acreditar, ele disse, mas eu joguei quase tudo fora.
(Um conto inédito de André de Leones publicado no site Prosa on line. Nascido em Goiânia em 1980, Leones é autor do romance “Hoje está um dia morto”, vencedor do Prêmio SESC de Literatura 2005, e do volume de contos “Paz na Terra entre os monstros”, ambos publicados pela editora Record)
domingo, 11 de janeiro de 2009
Ontem um amigo disse que sempre quando o ano inicia as pessoas se inundam de pensamentos de mudanças; ele falava como se essas fossem esperanças perdidas. Fui categórica “meu caro, a decisão está nas suas mãos. Eu, por exemplo, posso decidir não ter mais aquela foto na minha cabeceira, posso remover a mancha da parede, posso de repente, tomar as rédeas e dizer não, quando tudo em mim quer dizer sim”. Somos nós que elegemos o descontrole.
Como preciso de tempo para digerir meus pensamentos, minhas teorias e conselhos; desde alguns dias estabeleci certos parâmetros, resolvi solucionar algumas pendengas do passado que permanecem pedras no meu caminho, reabri minha matrícula na faculdade, tive algumas idéias que ganharão dimensão diante do olhar alheio(se bem que isso de ser grande ou pequena, nem importa tanto), fui a favor da palavra e do encontro, de tirar o peso de cima, de afrouxar o nó da garganta.
Sabe essas coisas de acompanhar o germinar da planta, quase me pega essa paciência de esperar madurar.
Tenho alguns brotos, tenho um pé quase todo na estrada e a ponta do outro atrás e tenho alguma coisa especial crescendo em mim, uma novidade de bater o martelo, uma definição.
Idéias entre a penumbra e a luz: show da Alanis e Coldplay, fazer um curso decente de Photoshop e Indesign e arrumar uma forma de ganhar dinheiro extra.
sexta-feira, 9 de janeiro de 2009
A minha ida ao show da cantora Alanis Morissette é coisa quase decidida, preciso de mais umas tomadas de ar para diferenciar loucura e sanidade. Ela como muitos outros artistas não alcançam elogios unânimes, ainda assim eu levanto a plaquinha a favor. Acho que a parecença nos aproxima. Disponho aqui o clipe de uma das músicas que adoro “Bent 4 U” e sua tradução.
BENT 4 U(Curvando-me a você)
Você está inseguro e não está preparado
Portanto isso só pode significar “eu te quero”
Você tem alguém e não está interessado
Mas em você eu busco conforto
Por milhões de vezes e milhares de maneiras tentarei te mudar
Por milhões de meses e milhões de dias tentarei te convencer
Eu esperei por você, me adaptei a você
E pra mim chega
Eu me submeti a você, dei poder a você
E pra mim chega
Ou você é novo demais, velho demais
Ou simplesmente não está disposto
Ou você está adormecido ou evitando me dar sinais para que possa continuar te desejando
Por muitas vezes, de diversas maneiras tentarei arrancar de você um pouco de amor
Por muitas horas e de diversas maneiras me esbaldarei em migalhas vindas de você
Eu me dediquei a você e me privei por você
E pra mim chega
Eu me deprimi por você e me desdobrei por você
E pra mim chega
Eu me sufoquei por você
E me arrisquei por você
E pra mim chega
Eu me calei por você e me sacrifiquei por você
E pra mim chega
Chegará o dia que vou me recuperar
Não vai demorar muito e eu estarei no meu caminho novamente
Não será fácil nos separarmos
Porém eu alcancei o meu limite de auto privação
Você tem medo das mulheres e também de seus sentimentos
Você treme só de pensar em dividir um teto, pensar em mim, em Deus e tudo mais
Por milhões de vezes e milhares de maneiras eu tentei mudar para combinar com você
Por muitas vezes e vários dias de cada vez eu tentei me desapaixonar de você
Eu esperei por você, me adaptei a você
Eu esperei por você, me adaptei a você
E pra mim chega
Eu me submeti a você, dei poder a você
E pra mim chega
Eu me sufoquei por você
E me arrisquei por você
E pra mim chega
Eu me calei por você e me sacrifiquei por você
E pra mim chega
quinta-feira, 8 de janeiro de 2009
Conversas no MSN com um amigo querido e inspirações de tarde da noite.
- As minhas estão se acabando, se esfiando, puindo, se esfumaçando.
- Tenho vontade de lamber, de morder, será que isso pode ser outra coisa senão fome?
-As palavras saem. Palavras mal criadas. Se eu falasse tudo sem vírgulas nem mentiras, talvez eu tecesse um poema; se bem que eu escrevi alguns poemas meia boca com minhas mentiras consensuais.
- A realidade às vezes é chata, não combina com as letras.
- Como eu me sinto feliz sendo de verdade, como eu fui feliz ontem.
Poderia extrair vários trechos de conversa, poderia aqui dispor uma colcha de conversas inteiras, conversas pela metade, conversas de varar a madrugada, conversas de raiar o dia; isso é prova de que a inspiração está aí em cada disposição de palavra, na teimosia de pôr no papel, onde quer que seja, uma vírgula de pensamento daqueles de dentro do ônibus que martelam como se quisesse pregar o quadro na parede. Que se danem os jornais, as revistas semanais, nosso papel é esse aqui disposto, estamos fadados ao descaso, e isso nem é tão ruim.
Escreva quando der na telha, não escreva mais se isto for um fardo, escreva para mim, escreva para poucas pessoas tuas palavras raras, escreva amanhã teu testamento de coisa alguma, escreva nem sobre a lápide, escreva sequer o seu nome, escreva até o fim da vida, escreva por obrigação de ser tudo sujeito a aprovação, escreva até findar, até a lauda estipulada, escrever é o teu destino, é a tua maldição. Alimente o tédio das horas vagas, alimente o papel somando tuas tristezas passageiras.
Escreva nunca mais! Desenhe como fizeste no jardim de infância, pinte tuas cores, apresente a tua versão de corte e colagem. Escrever é muito preto e branco.
Escreva, desenhe, sente, suba, tome rumo, tome prumo, viaje, volte, fique, ame, deite, acorde, vá...tudo decisão, tudo corre, tudo esfiando, puindo, esfumaçando.
Rosemeri Sirnes
domingo, 4 de janeiro de 2009
SOBRE CLARISSE
Ela desistiu, menina sem asas pela janela. Clarisse viveu como ferro em brasa, esperando que a chama acalmasse, mas ela sempre ardeu.
Se eu pudesse voltar a seu quarto, se a porta não estivesse fechada, se eu tivesse insistido, se eu tivesse estranhado todo aquele silêncio.
Não foi o homem, nem a moça, não foram os foras, nem as recusas, foi ela quem se opôs, impondo o ponto final antes do tempo.
Clarisse, se os meus olhos estivessem atentos e eu não estivesse tão preocupada com os anos a frente, quem sabe não estaríamos no tapete da sala assistindo filmes,comendo pipoca e falando mal dos imbecis.
Clarisse, se você antevesse a minha decadência, se eu compreendesse tuas entrelinhas, tuas construções de passado, se eu não tivesse me ausentado, a culpa seria toda sua.
Hoje vejo teus olhos fechados, teu sono profundo, lembro de quando você disse que gostaria de dormir e acordar quando tudo estivesse no lugar e eu me pergunto se devo esperar.
Ainda tenho tua voz na lembrança, teus pedidos de recompensa, tuas rendições. Você sempre achou que pagava dívidas de outras vidas e eu nunca te convenci do contrário.
Clarisse, todos continuam a te repreender e eu querendo saber pra onde foi sua alma. Agora que a tua respiração cessou, agora que tua pele descansa, penso se poderás voar como os anjos.
Leio agora a carta que deixastes na cabeceira e a tua frase me estaca “A liberdade dos pássaros. Dear, fui atrás dos meus direitos”
Rosemeri Sirnes
sábado, 3 de janeiro de 2009
QUEM DISSE QUE SERIA FÁCIL?
Eu queria todas as respostas, roupas na corda e cama pronta, eu queria dizer sim. Eu queria mesa posta, duas xícaras e pão quentinho, eu queria ouvir você dizer sim.
Eu queria soluções para os problemas da fome, eu queria a paz mundial, você e alguns agregados.
Hoje um amigo disse que especialistas garantem que o tempo de reverter o aquecimento global passou, estimativa para derretimento de todas as calotas de gelo é 2030.
Eu queria que o tempo intermediasse e disssesse “então, o que é que vocês vão decidir?”
Meu amigo ficou ali, horas dissertando sobre causas, consequências e energia alternativa e eu queria que você decidisse ficar.
Muito me interrogo sobre pés no chão, cabeça no lugar e digo não seis seguidos de pausas de uma certeza de beirada.
Eu queria você num estalar de dedos e eu queria nada perfeito, queria copos no chão da sala, cotonetes sobre a pia do banheiro, roupas caídas do lado de fora do cesto e duas faces no espelho.
Eu queria sem véu e grinalda, eu queria muito mais a verdade do que suas convenções.
Eu queria nada, coisa alguma, eu queria que você se desfizesse algodão doce na boca. Eu queria do início ao fim.
Eu quero ainda, nesta ordem, eu quero sem dia de amanhã e quero outra vez no dia seguinte da mesma maneira.
Desconstruo a frase, o metódico das fases, e tudo é uma questão de fazer bem ou mal.
Quero acreditar em outras coisas, mas só acredito no que há em mim das muitas outras que por vezes assumo, outras ignoro.
Rosemeri Sirnes
sexta-feira, 2 de janeiro de 2009
"Escrevi um pouco por ti, um pouco para não perder a mania, um pouco pela frequência. Escrevi por impulso, escrevi para que a minha palavra valha, escrevi para não esquecer, para não me contradizer. Escrevo pelo que sinto que é espontâneo e tudo ao mesmo tempo. Por mais que duvides, o meu amor é demasiado e é só esse."
Ah! Esse homem me resgatou. Ele me resgatou das memórias, desse tempo aqui contido, esse que eu capturei como colecionadora de borboletas, me resgatou de todos os homens que mal chegavam e já estavam de saída, me deixando os por quês. E hoje, quando a moça canta no fone de ouvido a canção triste, nada me inspira a mesma ação.
Esse homem me resgatou de mim, de presságios, pessimismos, das minhas manias de traçar sempre um fim. Quando eu já perdia o pulso, quando a minha pele já perdia a cor, ele mergulhou e levou-me nos braços.
Quando a falta de aquecimento me abria outras portas, ele me beijou. Ele me resgatou dos emaranhados, das dúvidas todas de saber o que é amor e quando. Eu nunca, nunca, nunca, me senti tão segura; nunca mais preocupações de fins de semana em companhia; aquele será que vem, será que não; nem mesmo mantra de ligações aflitas, nenhum pedido expedido, nenhuma insistência pra ficar; ele estava de fato, além do porta-retrato; foi então que eu entendi o que minha mãe disse certo dia: eu nunca havia amado até o momento em que ele me resgatou.
Rosemeri Sirnes