sexta-feira, 25 de setembro de 2009









RESPIRE A MÚSICA, SÓ ISSO

Será que alguém vai entender quando eu escrever sobre não esquecer de respirar a música? Quando eu fechar os olhos e chorar, será que vão pensar que é de tristeza? Ou então, se eu gritar e movimentar os braços como única libertação, será que não levarão em conta a minha sanidade? Se eu disser que amo mais uma vez, ele vai acreditar que é uma outra forma? Quem vai levar em consideração ou perdoar as minhas crises existenciais? Quem vai me pegar de jeito e dizer toda a verdade? Será que ainda demora? Será que vem devagar? E o mar, há de respeitar quando eu fincar os pés na areia e não me deixar levar? E o sol, há de livrar-me de teus raios e ser apenas benefício à minha pele? E tu, como vais? Quando vens? Malas prontas, todos os pertences, inteiro?

Será que vão ter como certa a minha permanência? Será que permitem que eu me estabeleça e escreva? Será que ele assina e lavra e acredita e leva a sério e envelhece e agradece estar ao meu lado? Será que vadio, mentiroso? Será que sem traumas, nem freios? Será que entende meu silêncio e não interrompe?

Não minta, não minta! Acima de todas as coisas importantes - destaco para que leias, não ignore - A tua verdade é o teu valor. Não me faça acreditar que vales nada.

Será que a minha vida encontra a sua, sem endereço e sem vontade? Será que o beija-flor anuncia novo amor? Será que a esperança traz bom prenúncio? Será que o pássaro passa da cozinha? Será que ele se contenta com as migalhas? E o dialeto que eu ouço, será que faz sentido, será que encontra aki razón?

Respire a música, para que ela te encontre, qualquer música para que a gente se encontre, uma única música para que as mãos se toquem e sigamos em rodopio pelo salão e eu possa te beijar com a palavra e eu possa entender a tua mão sobre minha coxa. Dance comigo para que eu diga eu te amo, para que meu corpo declame sua beleza. Dance comigo e saberás me guiar como exímio dançarino, ainda que aprendiz, ainda que nunca antes.

Nenhuma pergunta, só o teu corpo e o meu.

Respire o meu prazer, me engole inteira de vontade.


Rosemeri Sirnes

sexta-feira, 18 de setembro de 2009




Arte sem limites

Você se surpreende com o fato de que um simples traço de pincel dá expressão a um rosto? Toca-lhe fundo a alma a junção adequada e precisa das notas musicais? Arrebata, espanta e fascina a forma como a reunião de palavras pode ganhar vida diante de seus olhos? Dá uma olhada nas fotos abaixo, elas mostram a “autópsia de livros” realizada pelo artista Brian Dettmer, que prova como a arte se renova ao longo dos tempos. O seu trabalho consiste em criar verdadeiras esculturas com recortes de livros velhos, dicionários e enciclopédias que antes estariam em uma prateleira empoeirada sem uso.
Um amigo meu chamaria isso de pecado, eu chamo de obra de arte.



























quarta-feira, 9 de setembro de 2009


O QUE EU NÃO SEI

Fui parar em 2006 pra te encontrar, pra saber um pouco mais. Tenho a impressão de que perdi alguma coisa toda vez que você diz e eu não entendo. Tua lista de recomendações e o sopro de verdade que a tua condição e idade trouxeram, vim buscar algum caminho pro meu discurso. Nada aqui se parece comigo e talvez nem tenha mesmo que parecer com nada do que eu já tenha visto, e por isso cause em mim essa sensação de estranheza, como se eu estivesse subindo pelo elevador de serviço. Você fala outras línguas em frases cheias de apóstrofos, Le, dit e eu penso em algo para colocar-te junto a mim em pé de igualdade. Eu nunca sei que título dar às coisas que escrevo, você escreve qualquer coisa com aspas e dois pontos e é tudo fabuloso.
A minha pós em Literatura vai de vento em popa, chego em cima da hora todos os dias por conta do trabalho que quase me prende por causa de suas urgências de última hora, e embora tudo reme contra, eu sempre chego a tempo de costurar o meu retalho. Você sabe que lugar em que se reunem muitos egos tem sempre um pessoalzinho que volta e meia distrai o assunto e fala em uns tais que provam, que esclarecem, que defendem e eu penso que merda de faculdade é essa que eu fiz. Uma vez eu abri a boca para fechar pra sempre, palavras em formas de pedra seguiram na minha direção, quase pedi desculpas por interromper aquela guerra de vaidades. Agora eu faço cara de paisagem e levo em frente o meu projeto. Qualquer dia desses ergo um prédio, você vai ver.
Tenho que ir mais longe, talvez eu pare no século XVIII, talvez eu avance um pouco mais.
Rosemeri Sirnes