FAZ FALTA DE FATO O TATO
Sou egoísta. As pessoas dizem adeus e eu fico triste por saber que perderemos o tato. Sabe...tocar, lamber, degustação me atrai, preciso ter as coisas de fato. Não falo de posse, falo de contato, pêlos, poros, suores, sorrisos, abraços, amores (amor palavra singular - plural na diversidade em que se dá).
Hoje eu disse adeus, tchau talvez; a pessoa vai pra longe e a gente sabe que mesmo com o telefone, quando a pessoa não volta, ela realmente vai em continuidade.
Agora que caiu a ficha, sinto um aperto em algum lugar aqui dentro que não consigo distinguir e a lágrima vem... eu me esforço, mas ela teima em cair, saudade derrama.
Meu amigo se foi pra perto, longe de mim, ausente a sua voz interrompe meus silêncios, ausente sua presença preenche os meus vazios.
Tantas brigas bobas do passado, coisas à toa, de birra, de charme. Teria posto fim, se soubesse que esse tempo faltaria.
Lembro-me bem da partida, meu corpo, se fosse possível, ficaria tatuado ali. Preferi não levá-lo ao aeroporto, não iria compactuar com tudo aquilo –reforço: sou egoísta - eu sabia que aquela era a oportunidade da vida dele, mas sorrir despendia muita energia.
Fizemos, dois dias antes, uma despedida de nós, particular; senti que ali éramos laço e não mais um nó. Deitamos juntos com a cabeça sobre o mesmo travesseiro e aproveitamos pela última vez a nossa presença, sabíamos que juntos éramos mais. Neste dia sem lágrimas, varridas muito antes dele chegar; plantei alegria no olhar, numa conformação falsa, de frases ensaiadas, palavras em comunhão; tempo gasto em vão. Diante dele, todas cessaram numa saudação a todo o vazio que me invadia e eu fiquei calada.
Compartilhamos do mesmo ar, olhamo-nos fixamente como se quiséssemos rebobinar todo o nosso filme. Vimos todos os nossos defeitos, rimos sem parar, tudo o que havia passado despercebido virava piada; adormecemos de mãos dadas e quando eu acordei a mão solta me remetia a um sonho ruim, de fratura exposta, ferida aberta que doía.
Cinco anos passaram desde então, como flecha em direção ao alvo. Nada mudou, o espaço que ele preenchia continua vago como a garagem de um prédio comercial em dia de feriado; a gente mal se fala, vez em quando apressados ao telefone a gente se noticia, mas não é mais como antes, corpos isolados que as palavras por mais carinhosas não conseguem juntar. Faz falta de fato o tato.
Rosemeri Sirnes
Hoje eu disse adeus, tchau talvez; a pessoa vai pra longe e a gente sabe que mesmo com o telefone, quando a pessoa não volta, ela realmente vai em continuidade.
Agora que caiu a ficha, sinto um aperto em algum lugar aqui dentro que não consigo distinguir e a lágrima vem... eu me esforço, mas ela teima em cair, saudade derrama.
Meu amigo se foi pra perto, longe de mim, ausente a sua voz interrompe meus silêncios, ausente sua presença preenche os meus vazios.
Tantas brigas bobas do passado, coisas à toa, de birra, de charme. Teria posto fim, se soubesse que esse tempo faltaria.
Lembro-me bem da partida, meu corpo, se fosse possível, ficaria tatuado ali. Preferi não levá-lo ao aeroporto, não iria compactuar com tudo aquilo –reforço: sou egoísta - eu sabia que aquela era a oportunidade da vida dele, mas sorrir despendia muita energia.
Fizemos, dois dias antes, uma despedida de nós, particular; senti que ali éramos laço e não mais um nó. Deitamos juntos com a cabeça sobre o mesmo travesseiro e aproveitamos pela última vez a nossa presença, sabíamos que juntos éramos mais. Neste dia sem lágrimas, varridas muito antes dele chegar; plantei alegria no olhar, numa conformação falsa, de frases ensaiadas, palavras em comunhão; tempo gasto em vão. Diante dele, todas cessaram numa saudação a todo o vazio que me invadia e eu fiquei calada.
Compartilhamos do mesmo ar, olhamo-nos fixamente como se quiséssemos rebobinar todo o nosso filme. Vimos todos os nossos defeitos, rimos sem parar, tudo o que havia passado despercebido virava piada; adormecemos de mãos dadas e quando eu acordei a mão solta me remetia a um sonho ruim, de fratura exposta, ferida aberta que doía.
Cinco anos passaram desde então, como flecha em direção ao alvo. Nada mudou, o espaço que ele preenchia continua vago como a garagem de um prédio comercial em dia de feriado; a gente mal se fala, vez em quando apressados ao telefone a gente se noticia, mas não é mais como antes, corpos isolados que as palavras por mais carinhosas não conseguem juntar. Faz falta de fato o tato.
Rosemeri Sirnes
2 comentários:
Putz! A verdade dói aqui. Passas uma coisa tão forte e verdadeira, que fico pensando, como pode?
São apenas palavras, pq as sinto como socos no estomago?
Não fosse esse teu sorriso-bálsamo de flor carioca, e eu sairia daqui nocauteado.
Soou o gongo!
E eu me vou com um beijo afetuoso.
Mas, sem tato... rsrsrs
Cara Rose: Poucas pessoas, ou melhor, artistas conseguem expressar suas emoções, sem cair em bordões de puro pieguismo, mas você sem sombra de dúvida é uma exeção.
É impressionante a literariedade existente nos seus textos, a qual enobrece situações comum á todos os seres humanos. Então quando lemos um texto seu, não estamos tendo acesso á uma informação sobre a sua intimidade, mas sim refletindo sobre nós.
Postar um comentário