Welcome to my place
Meu lugar, meu ninho, minha vizinhança de cadeira de praia na calçada.
Não sou da praia da Ipanema, nem do Shopping Leblon, visto o que me cai bem no corpo e no bolso, não sou de cobertura na Barra, nem de janela de vista pro mar, não faço tipo, não sento com meu notebook na praça de alimentação, não tenho babá pra pajear meu filho durante o passeio. Sou do subúrbio, da zona norte, do sacolé da casa em frente, do supermercado popular na esquina, da terça da feira, da quarta da carne, do comércio ambulante, da calçada tomada por camelôs, de crianças na rua jogando bola e caindo no meu quintal, de varal de roupa nos fundos do condomínio, do apartamento de três quartos apertados que não cabe qualquer mobília, da moçada na praça, das vizinhas contando fofocas, da pelada de domingo de manhã, da pipa que solta da janela, do padeiro que passa de bicicleta anunciando com sua buzina, do cuscuz e da cocada, do homem que conserta panelas, das testemunhas que batem à porta, da rua de quebra-molas, dos carros parados irregularmente, dos puxadinhos, da gente que frequenta loja de grife arriscando as contas do mês, tentando seguir a moda. Gente que empresta o saco de feijão, que distribui as frutas que colhe no quintal, gente que doa o pouco que possui.
Meu lugar que anseia por melhora, mas que não desfaz as belezas que tem.
Minha paisagem sem verde, nem faixa de areia, de praias abandonadas, de piscinão. Minha travessia arriscada, de bala perdida, de comércio fechado pelo tráfico, de milícia, de poder paralelo, dos corpos encontrados, dos policiais invadindo, das escolas de samba, da falta de glórias, do ensino precário, de crianças que não sabem o Português, de deputado que oferece assistência social sem pretensão, de casais que namoram sem pudor, de meninos que tocam a campainha e saem correndo, de meninas que se vestem como mulheres.
Sou de um lugar sem maquiagem, e que por não ter turistas não precisa ser. Sou de um lugar onde os gritos não ecoam, a não ser que a tragédia seja grande. Moro nos fundos, pra cá não se paga pedágio, minha casa é a sua casa e são todos bem vindos.
Às vezes eu tenho a impressão de que somos como o México é para os Estados Unidos.
Rosemeri Sirnes
Não sou da praia da Ipanema, nem do Shopping Leblon, visto o que me cai bem no corpo e no bolso, não sou de cobertura na Barra, nem de janela de vista pro mar, não faço tipo, não sento com meu notebook na praça de alimentação, não tenho babá pra pajear meu filho durante o passeio. Sou do subúrbio, da zona norte, do sacolé da casa em frente, do supermercado popular na esquina, da terça da feira, da quarta da carne, do comércio ambulante, da calçada tomada por camelôs, de crianças na rua jogando bola e caindo no meu quintal, de varal de roupa nos fundos do condomínio, do apartamento de três quartos apertados que não cabe qualquer mobília, da moçada na praça, das vizinhas contando fofocas, da pelada de domingo de manhã, da pipa que solta da janela, do padeiro que passa de bicicleta anunciando com sua buzina, do cuscuz e da cocada, do homem que conserta panelas, das testemunhas que batem à porta, da rua de quebra-molas, dos carros parados irregularmente, dos puxadinhos, da gente que frequenta loja de grife arriscando as contas do mês, tentando seguir a moda. Gente que empresta o saco de feijão, que distribui as frutas que colhe no quintal, gente que doa o pouco que possui.
Meu lugar que anseia por melhora, mas que não desfaz as belezas que tem.
Minha paisagem sem verde, nem faixa de areia, de praias abandonadas, de piscinão. Minha travessia arriscada, de bala perdida, de comércio fechado pelo tráfico, de milícia, de poder paralelo, dos corpos encontrados, dos policiais invadindo, das escolas de samba, da falta de glórias, do ensino precário, de crianças que não sabem o Português, de deputado que oferece assistência social sem pretensão, de casais que namoram sem pudor, de meninos que tocam a campainha e saem correndo, de meninas que se vestem como mulheres.
Sou de um lugar sem maquiagem, e que por não ter turistas não precisa ser. Sou de um lugar onde os gritos não ecoam, a não ser que a tragédia seja grande. Moro nos fundos, pra cá não se paga pedágio, minha casa é a sua casa e são todos bem vindos.
Às vezes eu tenho a impressão de que somos como o México é para os Estados Unidos.
Rosemeri Sirnes
4 comentários:
Bonito texto, um protesto em poesia, em beleza.
Um beijo.
Amiga,somos gente da gente.A felicidade reside nas coisas simples da vida.Ainda bem!
Bjks
Pois eu adorei saber sua verdade! E gosto tal como é!
Aqui deixo um abraço bem fraterno!
Continuação de Sereno Natal!
Um beijo,
FElicidades em 2010!
Abraço fra/terno
Postar um comentário