terça-feira, 23 de fevereiro de 2010


Arte: Eduardo Sousa


Uma mulher que faz de conta


"Tem uma mulher em mim que pede licença, tem uma mulher em mim quase bem vinda, não fosse as tragédias, não fosse o batom borrado e o salto quebrado. Tem uma mulher em mim que quase soluça, que quase sou de boca aberta, uma mulher que tropeça e quase rasga. A mulher que vive no papel quase sou eu dizendo a verdade."


Ela escreve coisas que não entendo. Ela faz sentido, a cabeça virada, ela do lado do avesso; pede que eu toque, que eu sinta abstratos, pensa que só os poetas a entendem e respira fundo. Tropeça em palavras, fere a si mesma e pede desculpas só para ser absolvida antes da pena. Tem um santo de proteção, pendura o terço no pescoço e a guia por não ter segurança nas mãos, por temer que algum dia a areia movediça. É tudo de novo, é novo, anunciado para quem quiser aproveitar a liquidação. Um brado. Assusta a moça que acorda em sobressalto, assusta a moça que cansou de ouvir canções dor de cotovelo e adormece de cansaço sem príncipe encantado. Barulho no canto do quarto, no limo, na parte gelada, é outro terreno, é verde, a verdade nua e crua, o sapo.


Rosemeri Sirnes



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