sexta-feira, 2 de abril de 2010


Com açúcar, por favor


“Se quiser, doce será. Se quiser, amargo será. Será do jeito que o sabor vier à língua, será bom o caju embora com cica; saborosa a pimenta, saboroso o limão. Será do jeito que eu decidir receber, de bom grado ou não. Ver casas coloridas na subida da ladeira ou arquitetura moderna. Carros estacionados ou bicicletas em movimento. Fumaça de cigarro ou cheiro de eucalipto.”

Ela diz para eu não ir. Eu digo que vou. Eu vou. Ele vai estar, diz que não dessa vez, mas da próxima. Ela diz para eu não me entregar, para não mergulhar. Eu suporto o caldo, digo que treinei ficar sem respirar. Ela diz para eu não me enganar. Eu digo que não há engano quando você já sabe que não tem jeito, que daquele mato não sai coelho. Ele vem. Eu deixo entrar. Ela diz para ir mais devagar. Eu tropeço. Ele diz que sente minha falta. Ela diz que ele usa o mesmo discurso com todas. Eu duvido. De uma hora para outra ele muda. Ela diz que já experimentou. Digo que nunca aconteceu. Ele é o mesmo.
Ele vai embora. Eu paro pra dar uma segunda olhada. Todas as palavras estavam ditas, principalmente aquelas que não me desceram pela garganta e eu relevei. Ela me segura, sustenta o meu peso e o dela. Ela discursa sobre as coisas que eu mereço e eu entendo o seu papel de amiga.
Ele está com olhos vidrados em mim, na forma como eu danço, na forma como eu me solto, na forma como eu fico bem sozinha. Eu ainda penso em nós dois, na forma certa do seu corpo no meu, nos seus 1,80m cabendo nos meus 10 centímetros a menos.
Prestes a ser tudo da boca pra fora. Prestes a ser doce na boca de criança. Ele nem precisa dizer. Eu só preciso calar.


Rosemeri Sirnes

3 comentários:

Teacher Thiago disse...

G'day Mate,

E no final dá tudo certo.. rsrs

Visitando seu blog :-D
Voltarei mais vezes...

Bjs na Testa!
Thiago

Fernando Rocha disse...

Descrição perfeita da interação!

GS disse...

... e muito afecto :)
Lindo domingo de Páscoa!

Beijo fraterno,