VISÃO SOBRE O RIO DE JANEIRO
Só poderei escrever se deixarmos o carro no estacionamento do shopping e seguirmos em direção ao centro da cidade; se caminharmos toda a Rio Branco e pararmos no Centro Cultural do Banco do Brasil, se cismarmos de uma hora pra outra e subirmos Santa Teresa, e ao invés de pegarmos o ônibus, optarmos pelo bonde, só pela vista, só pela nostalgia.
Só poderei escrever se alguém na fila falar outra língua - o francês que você reconhece - com uma espanhola e ela responder em inglês e a gente se sentir na torre de Babel e questionar o fato de um estrangeiro vir ao Brasil e achar que temos que entendê-lo.
Só poderei escrever se notar que a estação de embarque, se é assim que posso chamar, está bastante descascada para o que se propõe uma atração turística.
Só poderei escrever se passar pela decepção de ficar meia hora esperando e o rapaz comunicar que o próximo bonde deve demorar uns 50 minutos sem nem garantir o tempo exato, e perceber que começa a escurecer e não veremos a cidade acesa, embora ela seja maravilhosa de toda forma. (sabe que até agora estou intrigada pensando se aqueles estrangeiros captaram a mensagem)
Só poderei escrever se pegarmos a direção zona sul por distração e eu levar um tombo na escada e você ficar entre me ajudar e morrer de rir.
Só poderei escrever se escolhermos tomar um cappuccino e comer quiche na única opção em volta e vermos pessoas mais estranhas que a gente.
Só poderei escrever se formos pela pista do meio, se passarmos pela calçada em frente àquela igreja toda adornada por dentro esperando a noiva no altar.
Só poderei escrever se eu vir aquele homem vendendo flores no meio da rua deserta e perceber que aquela cena daria uma bela foto.
Só poderei escrever se eu viver cada segundo de vida, cada partícula que eu recupero das horas dormidas.
Caminhar pela cidade é como abrir os olhos e contar a própria versão da história.
Rosemeri Sirnes
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