terça-feira, 27 de janeiro de 2009



Comecei a ler o Diário de Anaïs Nin, ora o encantamento me assume ora a identificação me toma o corpo, e é uma pena que não possa carregá-lo comigo, largá-lo numa estação qualquer onde outros possam lê-lo e sentir o mesmo. Gostaria de me estender em suas trezentas e tantas páginas, mas o tempo de funcionamento da biblioteca me faz abandonar a idéia. Basta uma frase impactante, um qualquer sinal de coisa irmã e estou querendo voltar no tempo e querendo me inundar no mar das palavras virgens.

“...porque a minha felicidade com os seres humanos é tão frágil...”
Anais Nin

Tem um quê de leitura anterior, posterior a essa, como Clarice, tem um quê maior de ineditismo que me abraça.


“A vida de todos os dias não me interessa. Procuro apenas os momentos elevados. Estou de acordo com os surrealistas quanto à procura do maravilhoso.

Quero ser uma escritora que lembre aos outros que estes momentos existem. Quero provar que existe um espaço infinito, um sentido infinito para as coisas, uma dimensão infinita.

Mas não estou naquilo que se pode chamar de estado de graça. Tenho dias de iluminação e febre. Há dias em que a música para na minha cabeça. Então remendo peúgas, limpo árvores, apanho frutos, dou brilho ao mobiliário, Mas enquanto faço isto sinto que não vivo.”

Anais Nin

Sei que devia dizer do livro ao término, das impressões, surpresas e arrebatamentos, sei que o resultado surge após o cálculo detalhado, talvez a minha ansiedade tenha intuído; não, não mesmo, sem talvez, é certo o que digo, diante de encantadoras páginas, 18 de 314. O que mais está por vir é um jardim de orquídeas, girassóis e muitas espécies raras.

“Vive-se assim protegido num mundo delicado, e crê-se que se vive. Então lê-se um livro(Lady Chartterly, por exemplo) ou faz-se uma viagem, ou fala-se com Richard, e descobre-se que não se vive, apenas se hiberna.”

Anais Nin


Retirei da estante 11 livros tendo completa convicção de que nenhum ser humano seria capaz de lê-los de uma só vez nas 3 horas em que planejava ficar; estou aqui desde que cheguei, presa a um mesmo título e querendo carregá-lo comigo. Vejo ele me justificando, me desvendando, me entendendo e tudo isso é uma loucura e ao mesmo tempo somos todos iguais em essência, seres livres receosos da própria vida que queremos viver, seguindo em fila indiana só porque é mais seguro.


“O verdadeiro infiel é aquele que só faz amor com uma fração de ti. E nega o resto."

Anais Nin



5 comentários:

Ester disse...

Sei o que estás a sentir, querida Rose, nesse êxtase de leituras..

Leio tudo de Clarice nesse momento, e é um transbordar de emoções,

sim, somos todos muito iguais e muito diferentes nas tramas da vida,

belo achado o seu!!


bjs!

Anônimo disse...

nossa, fantastico...amei a última citação é tudo!!

Fernando Rocha disse...

Parece interessante, vou colocar na minha lista de futuras leituras, obrigado pela dica!
Aproveitando o comentário da ESther, creio que o encontro com as diferenças é que nos propicia o encontro com nós mesmos, como bem aparece na obra da senhora Lispector.
Quando li a frase da fotografia do seu post, lembrei-me do páragrafo do "Retrato de Dorian Gray", a idéia é muito semelhante.

lula eurico disse...

Sim, vc logo se reergue, tenho certeza disso. Abraço fraterno e conta comigo tb.

Anônimo disse...

Rose, devorei todas as citações que me enviou! Amei! Obrigada!

E ah, tem selinho pra vc no poetriz!