quinta-feira, 16 de julho de 2009



Yin Yang


Eu: A quem devo a mudança? A quem devo cobrar o passo definitivo? Partir é uma decisão sem pernas. Não me peças para dizer se é certo ou errado pular de um precipício, não perguntes a mim se queres alguma coerência. Eu não faço sentido, minhas frases não se completam e eu não sei onde foi parar a minha sensatez. A quem devo dizer o que basta? Se canso de repetir a mim e não funciona. Quero a vida imperfeita, cheia de atravessados. Nada pode ser certo e morno e garantido. Preciso de aversão e rebeldia.

Eu mesma: Você tem as respostas para as perguntas não feitas, para as questões abafadas no peito para evitar discussões calorosas, você tenta convencer-se de que não te furtas nesse melindre de amar quem você desconfia o mesmo sentimento.
Como te enganas! Como escureces a vista embaixo do lençol em que deitas em companhia. Aflige-me a resposta disposta, engasgada, presa, dando um nó grosseiro na garganta. Ah! Quem teria a resposta exata, certeira, se a vida não é feita de fórmulas matemáticas? Quem dirá quando te enganas e quando adormeces diante da certeza cintilante de um amor distraído?
Não te direis nenhum conselho, é bem capaz que me julgues. Sei bem como corações apaixonados reagem diante da contrariedade.


Rosemeri Sirnes

quarta-feira, 8 de julho de 2009


FAZ FALTA DE FATO O TATO


Sou egoísta. As pessoas dizem adeus e eu fico triste por saber que perderemos o tato. Sabe...tocar, lamber, degustação me atrai, preciso ter as coisas de fato. Não falo de posse, falo de contato, pêlos, poros, suores, sorrisos, abraços, amores (amor palavra singular - plural na diversidade em que se dá).
Hoje eu disse adeus, tchau talvez; a pessoa vai pra longe e a gente sabe que mesmo com o telefone, quando a pessoa não volta, ela realmente vai em continuidade.
Agora que caiu a ficha, sinto um aperto em algum lugar aqui dentro que não consigo distinguir e a lágrima vem... eu me esforço, mas ela teima em cair, saudade derrama.
Meu amigo se foi pra perto, longe de mim, ausente a sua voz interrompe meus silêncios, ausente sua presença preenche os meus vazios.
Tantas brigas bobas do passado, coisas à toa, de birra, de charme. Teria posto fim, se soubesse que esse tempo faltaria.
Lembro-me bem da partida, meu corpo, se fosse possível, ficaria tatuado ali. Preferi não levá-lo ao aeroporto, não iria compactuar com tudo aquilo –reforço: sou egoísta - eu sabia que aquela era a oportunidade da vida dele, mas sorrir despendia muita energia.
Fizemos, dois dias antes, uma despedida de nós, particular; senti que ali éramos laço e não mais um nó. Deitamos juntos com a cabeça sobre o mesmo travesseiro e aproveitamos pela última vez a nossa presença, sabíamos que juntos éramos mais. Neste dia sem lágrimas, varridas muito antes dele chegar; plantei alegria no olhar, numa conformação falsa, de frases ensaiadas, palavras em comunhão; tempo gasto em vão. Diante dele, todas cessaram numa saudação a todo o vazio que me invadia e eu fiquei calada.
Compartilhamos do mesmo ar, olhamo-nos fixamente como se quiséssemos rebobinar todo o nosso filme. Vimos todos os nossos defeitos, rimos sem parar, tudo o que havia passado despercebido virava piada; adormecemos de mãos dadas e quando eu acordei a mão solta me remetia a um sonho ruim, de fratura exposta, ferida aberta que doía.
Cinco anos passaram desde então, como flecha em direção ao alvo. Nada mudou, o espaço que ele preenchia continua vago como a garagem de um prédio comercial em dia de feriado; a gente mal se fala, vez em quando apressados ao telefone a gente se noticia, mas não é mais como antes, corpos isolados que as palavras por mais carinhosas não conseguem juntar. Faz falta de fato o tato.


Rosemeri Sirnes