sexta-feira, 23 de julho de 2010




VIVENDO O AMOR



Eles se amaram de qualquer maneira, à vera

Qualquer maneira de amor vale à pena
Qualquer maneira de amor vale amar

(Miltom Nascimento/Fernando Brant)



Posaram as mãos sobre a outra, o corpo sobre a cama, as chaves sobre a mesa do apartamento entregue na terça.

Eu digo que amo como um gesto que me impede a distância. Nunca disse que os meus abraços são todos eu te amo? Fique sabendo.

Ricky, você é tão bonito que tua beleza me empresta, e agora eu sei que esse olhar todo brilhante do amor diamante tem nome de gente.

Thiago, vejo a beleza no espelho dos teus olhos e reconheço um irmão na sorte grande que você tirou.

Portas abertas. As caixas começam a chegar, os móveis, os presentes, os detalhes da decoração, a geladeira, a máquina de lavar. O sonho ganhando corpo estende-se na cama dividido em dois.

Nas mãos a aliança, sem amarras, só a mais pura vontade. Quando o Ricky multiplica a existência das vogais nas palavras confessa todo o amor que sente e me faz feliz presenciar a fé dessa união.

Parece mentira que o conheci outro dia. Menino, eu tenho idade pra ser tua tia e você deixa a casa antes de mim!

Como as coisas gigantes ganham espaço em mim.

Você é bonito desde a alma, desde o que não conheço até o que me confessa.

Você nem acredita como é tamanha a felicidade quando alcanço mesmo daqui o teu sorriso, quando você me conta tuas coisas por não caber em si de tanta alegria e me chama pra fazer parte disso.

Portas fechadas. Sossega o corpo ansioso que há duas semanas espera o encontro todos os dias. Chegou a hora da partilha dos espelhos, da cama, do lençol, das contas. Chegou a hora de ser feliz do lado dentro e do lado de fora.


Rosemeri Sirnes


segunda-feira, 12 de julho de 2010


MINHA TURMA, MINHA GENTE

Gente é muito bom
Gente deve ser o bom
Tem de se cuidar
De se respeitar o bom
Está certo dizer que estrelas
Estão no olhar
De alguém que o amor te elegeu
Pra amar
(Gente - Caetano Veloso)


Não vou falar das flores murchas. Recebi um buquê de vivas cores, coloquei-as no jarro com água gelada para durar minha semana, florindo a ante-sala recebendo bem aqueles que vêm pela porta principal.

No meio de toda fagulha, feriu-me o tanto que eu pude suportar: falar a mesma altura, suprimir o choro na garganta e descontar mais tarde ao telefone sossegando em mim tanta fúria ácida. Eu consegui conter o tremor das mãos e aquela sinfonia de panelas dentro de mim; forte, embora todo o corpo respondesse covarde. Quantas coisas nos deparamos...de repente e enquanto se está vivo é possível acontecer.

Não sou nenhum Jesus Cristo. Sou carne e osso, humana, ariana. Enlouquecida sou muito mais.

Mas tá freando, sob controle, atravessando a rua pra ser feliz.

Já sinto saudades das pessoas, algumas que nunca mais verei, outras que eu vou levar pra mim em mim pra dias melhores.

Olha de enxergar, cruza os dedos nos meus, feito linha na agulha e eu acredito que é verdade, pois tudo o que é verdade olha nos olhos e transparece, reflete na íris.

Como esses anos longos vão nos levando, eu e Su somos irmãs e nem precisamos de documento e testemunhas. Ela garante que o sucesso são nossos gostos avessos pelos homens. Eu confio que temos uma pausa certeira, de caminhar e parar, de falar e calar.

Meus dentes não estão mais trincados, meus olhos não respondem mais aos conselhos de que é preciso chorar pra sarar.

Escutei Don McLean cantando American Pie, mas foi um Peixe Vivo que me trouxe coloridos olhos posando espontâneo sorriso.

Como pode o peixo vivo
Viver fora da água fria
Como pode o peixe vivo
Viver fora da água fria


Como poderei viver
Como poderei viver
Sem a tua, sem a tua
Sem a tua companhia
Sem a tua, sem a tua
Sem a tua companhia


Rosemeri Sirnes