Lá por volta dos 10 anos de idade, antes ainda, por onde eu nem lembro mais, eu, estimulada por papai, lia gibis; influenciada pelo meu irmão um ano mais velho. Desde aquela época eu era meio fã do meu irmão, peguei inclusive doenças como catapora e sarampo por esse mania de não desgrudar, mas nunca admiti a admiração. Meu irmão sempre me protegeu de uma maneira cáustica, ele mal falava os meus relacionamentos; como mãe, ele enxergava além dos meus olhos apaixonados e ao fim eu sempre dava o braço a torcer. Ele magoava para me preservar; a verdade doa a quem doer, essa era a filosofia. Meu irmão nunca me elogiou assim na cara, sempre parafrasiou, sempre foi uma relação de silêncio, apesar do muito amor de irmãos que é inegável, apesar das brigas, desentendimentos e discordâncias. Outro dia ao me visitar ele disse que convivemos melhor em casas separadas, eu levantei coro; é verdade, antes disso nós nem nos beijávamos, parecia coisa estranha entre irmãos, éramos quase inimigos disputando a mesma terra.
Há entre nós agora um acordo permanente de paz.
Mas eu comecei querendo falar sobre a tirinha que captou o meu olhar nesta tarde de domingo e que nada tem a ver com essa historinha toda, mas é só porque me fez lembrar a infância, e é impossível uma coisa não vir com a outra.
Lembro bem que adorava as histórias do aposentado Urbano, que se eu não me engano, é publicada até hoje pelo jornal O Globo. Ultimamente não tenho mais paciência para esta página do jornal, e não sei até onde isso é um defeito, mas nem importa. Se bem que hoje, não sei porque cargas d'agua, li uma tirinha da série Vereda Tropical do cartunista Nani e adorei.
Transcrevo abaixo:
A Reforma ortográfica
- Doutor, estou com enjôo.
-Tome este remédio até o circunflexo sumir.
Moral 1: Assim como dizem dos homens, irmãos só mudam de endereço.
Moral 2: É preciso um olhar infantil para se redescobrir o encanto das coisas.