domingo, 8 de fevereiro de 2009


A gente queria mesmo era ter carteira de motorista e um carro na garagem, um carro popular, um carro qualquer que nos levasse cedo ou tarde ao lugar que pretendemos.

A gente queria não ter paradeiro e ao mesmo tempo queríamos vida estabilizada, filhos e um casamento perfeito.

Compartilhamos anseios em conversas de comadres.

Eu queria vida cigana e queria estacionar o carro bem em frente ao seu pŕedio e te levar a beira mar pra ver a onda bater nas pedras; pra que isso nos trouxesse um quê de paraíso.

Queria contar as pedras no caminho sem que me valesse os pés, queria subir os degraus, chegar a tua janela e encontrá-la aberta como nos clássicos.

Queria as 22h cismar e interrromper e desafiar a tua previsibilidade, esse seu jeito de gavetas arrumadas, de ter um lugar reservado para as meias.

Queria te dizer tudo o que penso e sinto, mas nunca estás disposto ao mesmo. Eu me calo em comunhão com teu silêncio. Depois você diz, dando margens as minhas interpretações, não opta pelo sim, nem pelo não, deixa um qualquer de sombra de dúvida pelo caminho e some.

Queria abrir minhas portas e janelas, deixar entrar, sentar no sofá e movimentar meu sossego.

Queria tê-lo sob verdadeira alegação.

Vou premitir que o vento entre pela brecha, vou começar a me acostumar. Vou permitir que você me desprenda da pele, feito pássaro solto da gaiola, feito folha que longe do galho segue o próprio caminho.


Rosemeri Sirnes

Um comentário:

Fernando Rocha disse...

Todo texto abre margem para várias interpretações, na minha óptica, este retrata muito bem a fase inicial de uma relação cheia de idealizações. Posteriormente o encontro com o real, o qual quase sempre nos leva para a solidão.
Muito bom o seu texto, quando comentei num verso da canção "Yellow", que acreditava que você não necessitava das palavrs de ninguém para se expressar, não estava equivocado, os dois últimos textos postados por ti, sinceramente demonstram uma notável evolução na sua escrita.