sábado, 27 de dezembro de 2008

Quando o amor faz sinal de que não vem


Enquanto você dorme eu varo a madrugada e acho que vou encontrá-lo no bar da reserva.

Como eu sempre quis estar aí, travesseiro do seu lado; por tanto querer, sempre me afastei.

Sempre quis um amor fulminante, um amor que surgisse, consumisse e morresse, tudo assim em 24 horas, um amor com respiração ofegante, mãos nervosas, um amor cigarra; um amor que vivesse pelo prazer somente, e então estaria resolvida toda essa matemática de encontrar, de perceber, de tocar, de fazer de conta, de dar-se conta; um amor que morresse após o gozo, este seria então o amor ideal; sem choramingos, sem falta de ar, sem ansiedades e principalmente, sem planos e previsões de longo prazo.

Mas como eu queria que você estivesse ali, bem na mesa em frente esperando que lhe mordesse a poesia na orelha, esperando minhas ordens sem o cinto.

Você me reconheceria, você não teria dúvidas, tua certeza viria do meu sapato sem salto, do meu olhar lançado em flecha, a tua certeza viria das minhas mãos tocando a face, afagando a nuca, das mordidas no lábio inferior.

Enquanto eu passeio nesse mar de incógnitos, você anda solto na minha imaginação, você se afasta e eu nunca vou lhe encontrar no banco desta praça, você não virá tapar-me os olhos e pedir que te adivinhe.

Você não virá.

Enquanto você espia a moça de saia curta e decote que acabou de subir, o ônibus passa por mim.

Você não virá.

Enquanto eu faço a cama, você planeja a pŕoxima investida.

Você não virá.

Enquanto eu aparo as arestas, você exagera.

Você não virá.

Enquanto preparo o jantar, você acelera e capota

Você não virá.

Enquanto eu escrevo, você apaga.



Rosemeri Sirnes

4 comentários:

Fernando Rocha disse...

Rosimeire: Seu texto tem uma relação profunda com o Mito do Andrógino do Platão: aquele que diz que no principio havia seres humanos que eram homeme e mulher num corpo só, mas castigados pelos deuses, foram separados, e passam a vida esperando encontrar sua metade. (se lhe interessou, leia o "Banquete")
A sensualidade do texto me remeteu à algumas coisas beatniks.
Acho legal esta mistura de prosa com poesia.

Anônimo disse...

Se ele não vem, melhor parar de esperá-lo e seguir adiante, não?

Feliz 2009!

Ester disse...

Linda amiga,

passando para deixar um mega super abraço de Ano Novo, só nos veremos virtualmente agora em 2009!

que este novo ano nos traga muitos motivos para
sorrirmos bastante, com ou sem amores! Que alcançemos nossos
alvos e ultrapassemos as linhas
imaginárias e cheguemos
mais longe do que
o sonhado!

bjs de luz,

Anônimo disse...

ótimo texto, tem hora que a gente percebe que precisa avançar- ainda que sozinho. tive uma conversa assim, liberando alguém, esta semana.não pude acompanhá-lo,é dificil a sensação de estar prendendo o outro tambem, sabe? o bom mesmo é encontro de pessoas disponíveis no coração. :)