sábado, 7 de fevereiro de 2009


Faz tempo que não faço coração no vapor, no box blindex, no espelho; faz tempo que abandonei as tranças do cabelo e o laço de fita, faz tempo que não molho miolo de pão no café, nem como banana com Nescau.

Faz tempo que eu mesma amarro os meus sapatos e pago as contas, faz tempo que as chaves da casa me foram confiadas e desde então posso chegar de madrugada. Faz tempo que cruzei outras ruas, fui além do quarteirão.

Faz tempo o meu primeiro beijo, aquele desacordo de línguas, faz tempo que aquilo era só um beijo, uma forma de não ficar pra trás.

Faz tempo que tudo era coisa nenhuma.

Foi-se o tempo em que era só brincadeira, sem querer, em que eu faria tudo o que seu mestre mandar, e em alguns passos eu alcançaria. O caminho era curto em passos de formiga e elefante, eu logo chegaria.

Faz tempo que a fantasia acabou, o palhaço desfez a maquiagem e o mágico abandonou seus truques. O circo desmontou a lona e seguiu viagem.

Ainda danço sem me preocupar com olhares alheios, ainda abro um sorriso grande de quem sente cócegas, ainda penso que nem tudo está perdido.


Rosemeri Sirnes

5 comentários:

Ester disse...

Faz tempo que eu não me sentia tão bem dentro de um texto...


bjs,

Unknown disse...

Ah! Faz tempo que te admiro. É sempre um refresco dar uma passadinha aqui.

Bjs

Dauri Batisti disse...

Que bom. Nem tudo está perdido, até porque sempre construimos outras fantasias. Somos construtores de sonhos, fantasias. Algumas ficam vazias, outras se enchem e se transformam em uma realidade na qual vivemos um certo tempo.

Fernando Rocha disse...

Rose,a infância é tão boa e quando somos crianças queremos tanto ser adultos.
Gosto muito quando as pessoas escrevem utilizando como base seus sentimentos, mas convertendo em arte, pois é sabido que nem tudo que brota das emoções virá arte, mas você conseguiu, me emocionei com o seu texto, e olha que dizem que tenho um coração de pedra.

Anônimo disse...

tem meme p vc aki....