domingo, 13 de dezembro de 2009


ESCONDIDA


Estou escondida para observar-te em passos lentos nunca fugindo de mim. Estou escondida para que não tê-lo medindo tempo, nem dizendo adeus. Escondida atrás da cortina, embaixo da cama, entre o sofá e a parede embaixo da janela da sala. Escondida para não mais ver teu semblante confuso quando está diante de mim. Escondida para não ter que aceitar que a marca no teu pescoço foi feita por uma amiga. Escondida para não ter você gaguejando, tropeçando em palavras, atrasando o que dirá depois; escondida para não tê-lo negando o óbvio. Estou escondida para ver do que você é capaz e para ter certeza da tua inércia. Estou escondida para saber que não vale a pena perder tempo escondida para ter evidências das coisas que sei de cor.

Quando muda, muda só de endereço, quando dispensa é pela certeza exata de que vai para a porta não mais abrir, e quando voltas é só para garantir companhia.

Estou escondida para que não me pegues desprevenida com tua mão macia e tuas frases batidas. Estou escondida para apagar minha presença de tua vista tantas vezes fatal. Estou escondida para me livrar das garras da tua vaidade, dessa disputa acirrada que a gente trava toda vez que finge que há algum amor. Estou escondida para lembrar das tuas imagens bonitas, para esquecer as marcas de navalha pelo corpo inteiro. Estou escondida para que tenhas o gosto da vitória, para retirar-me com alguma dignidade. Estou escondida para que não me ponha amargo na boca a tua saliva e digas que é doce. Estou escondida, em vias de ser capturada, pelo barulho embalagem plástica, pela madeira que geme a dor de sentir-se terceira pessoa, a quem sobrará apenas o dia de semana nunca o fim, nem satisfação. Só o fim, quando o cansaço for suficiente para não fazer caminhar.


Rosemeri Sirnes

3 comentários:

Natasha disse...

Nossa! Sem palavras! Estou escondida. : (

GS disse...

Muito sensível seu texto!
E a imagem belíssima, também!

Um beijo,

Anna Paula Ferrão disse...

Quem nunca se escondeu assim? Ameiii!