sexta-feira, 15 de janeiro de 2010


OUTRO DIA...


Outro dia te conheci, em 2009 fizemos 2 anos. Outro dia. Garanto que você não sabia. Primeiro encontro - como sempre o melhor - eu deitada no seu colo, a primeira vez, e eu nunca me senti tão à vontade, jogando meus anseios todos em você. Eu já podia dizer eu te amo como última oportunidade de dizer, como se dali por diante a mudez me tomasse.

Outro dia colhi suas palavras num e-mail qualquer e a nossa doce imagem numa exposição. Outro dia resgatei e entendi que tamarindo não é só amargo.

Eu podia ficar aqui costurando retalhos, montando um mosaico de fotografias picadas, vivendo de uma amargura de poema, e não sentiria jamais a areia macia me aliviando a caminhada, nem a magia que um céu de nuvens traz numa manhã ensolarada, nem o mar contra a pedra ressoando uma cantiga única de fim de temporada. Seria como negar a troca boa que houve entre nós. Quero te agradecer por cada vírgula que consertastes em meus textos, por cada crítica difícil de engolir, pelos incentivos e aplausos diante da minha humilde e infantil forma.

Outro dia eu lembrei da minha última tentativa, outro dia eu mexi os pauzinhos com tanta sutileza que veio só o que eu desejei, veio essa tranqüilidade de rede serena sem vento, um clima gostoso de veraneio, a minha alma em sossego.

Outro dia eu quis compartilhar contigo e eu não tinha telefone, outro dia quase ali à noitinha eu quis rimar e eu nem precisava de sentido e eu nem precisava de outra vida e eu estava lá.

Outro dia eu decidi gastar dinheiro, pegar a estrada, seguir o conselho de um amigo que disse “você precisa conhecer o mundo” e apostei. Outro dia eu me segurava, me aparava e no dia seguinte eu decidi partir.

Outro dia eu quis que você viesse comigo e depois eu achei que era melhor assim. Outro dia eu quis te contar de artifícios que explodiram dentro de mim, no instante seguinte eu sorri e chorei e achei que fosse loucura e a minha cabeça deu três voltas e eu voltei ao eixo.


Outro dia eu duvidava e nem sei até quando terei certeza, e se o bom da vida é esse mistério eu não estou nem um pouco afim de prever o futuro, deixo tudo ali na mesa do destino.

Outro dia te conheci, no quintal da vida a gente pisou no gramado, a gente deitou no banco da praça, cantou junto e leu poesia, e tinha tanta coisa pra gente fazer junto que nem deu tempo.

Outro dia eu queria te conhecer criança só pra passar mais tempo. Outro dia, meu querido, eu podia dizer eu te amo, mas hoje eu digo a verdade.


Outro dia eu lembrei de você e hoje eu estou aqui. Outro dia, pega por uma música, eu pensei que você podia estar pensando junto e eu me concentrei. Outro dia eu achei que eu não pudesse escrever tanto e olha isso aqui.

Outro dia eu peguei o metrô e me pus no vagão feminino, aos meus ombros duas mulheres difamando alguns homens e eu nunca poderia maldizer.


Outro dia eu lembrei como esse ano passou rápido e da facilidade como as coisas se vão. Outro dia eu lembrei que você é parte da qual não quero me perder. Outro dia pensei que você pode não querer o mesmo e suspeitei.

Outro dia eu lembrei de tanta coisa que já não raciocinava.

E o mais importante, outro dia eu lembrei que a verdade disso tudo é que somos de carne e osso, nossa verdade é a nossa pele e a gente ainda pode se tocar. E por mais duvidosa que seja essa afirmativa: eu sou sua amiga.

Outro dia eu fiz questão de não esquecer que, pelo menos nos meus sonhos, nós juntamos os dedos como quando éramos crianças e fizemos as pazes.

Outro dia a gente se encontrou, eu suponho, mas a gente não se viu, então a gente se distraiu e estávamos um diante do outro como a primeira vez.


Rosemeri Sirnes

Um comentário:

Fernando Rocha disse...

Há tempos que não passava por aqui, mas percebo que não perdeu a mão na sua escrita, a qual continua partindo do seu universo particular, para a amplidão do universo de todos nós.
www.neuroticoautonomo.zip.net