
JANELAS ABERTAS
Janelas abertas. É primavera. Janelas abertas. É outono. Janelas abertas para as estações do ano. Janelas abertas para receber o vento. Janelas abertas, meu bem, a tua janela não é única pra onde voa a poeira da rua. Você precisa respirar. Janelas abertas. O sol que queima o sofá é tão esperado por você todos os verões.
Janelas abertas. É inverno, esse que surge quando você apedreja o calor infernal, que faz você revirar a gaveta atrás daquele velho agasalho, que faz você tirar do fundo do armário o cobertor que cheira a guardado. É o inverno que você inveja dos europeus, que nem chega perto o rigor, mas que você logo difama e diz que não aguenta mais.
Janelas abertas. As flores estão querendo visitar a sua casa, posar na tua mesa. Janelas abertas. As frutas da estação estão aos montes no supermercado querendo alimentar aquele teu desejo antigo de comer pinha. Janelas abertas para reconhecer, para ver de perto, para não confundir-se pois o vidro pode estar embaçado, porque essas ondulações podem não permitir que você veja o que está do outro lado.
Janelas abertas. A chuva molhou tudo o que estava na minha mesa de cabeceira, ela molhou meu corpo inteiro e eu pedi tanto no primeiro dia do ano que ela me abençoou, não duvido.
Janelas abertas.
Outro dia eu quis entrar, mas por medo de algum perigo você as manteve trancadas. Eu sempre achei que bons prenúncios não precisassem bater.
Rosemeri Sirnes